quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Tecnologia Educacional

A tecnologia educacional e a qualidade do ensino técnico

João Roberto Moreira Alves (*)
Eduardo Desiderati Alves (**)

 

 A implantação de mecanismos voltados para a promoção da melhoria de ensino em instituições de ensino inclui-se entre as respostas alternativas a problemas sempre arrolados quando se debate o tema, considerados em toda a sua dimensão. Mas para isso é necessário entendê-los e concebê-los sob uma perspectiva inovadora e sistêmica e esta perspectiva pode ser entendida como característica da Tecnologia Educacional.
Não é, entretanto, algo absolutamente pacífico e de concepções uniformes. Por isso, uma análise das várias concepções se faz importante e por que não dizer, absolutamente necessária. As principais concepções em relação à Tecnologia Educacional podem ser agrupadas em diferentes tendências.
1- Tecnologia Educacional: o conceito centrado no “meio”
A primeira concepção a se desenvolver e que certamente ainda é a mais difundida do ponto de vista prático, é a que a “Comissão sobre Tecnologia Educacional”, do “Committee on Education and Labor” (USA), define como “o meio nascido da revolução da comunicação que se pode ser usado para fins instrucionais junto ao professor, o livro-texto, o quadro-negro”.
Como se pode facilmente identificar, este conceito deriva de trabalhos realizados por especialistas em recursos audiovisuais e comunicação de massa aplicada à educação. Assim, dentro desta perspectiva, a Tecnologia Educacional pode ser encarada como: aplicação sistemática em educação de princípios científicos oriundos da teoria da comunicação, psicologia experimental da percepção, cibernética, etc; o conjunto de materiais e equipamentos mecânicos ou eletromecânicos empregados para fins de ensino (projetores, gravadores, transparências, laboratórios de línguas, etc.); ensino em massa (uso de meios de comunicação de massa em educação); um sistema homem-máquina.
Nesta perspectiva, podem ser situados no âmbito da Tecnologia Educacional os meios de comunicação de massa a serviço da educação, os materiais e equipamentos chamados audiovisuais e os sistemas de multimeios.
Representativa desta tendência é a frequência com que muitos “Centros de Recursos Audiovisuais” trocaram seus nomes para “Centros de Tecnologia Educacional”, continuando, no entanto, a desenvolver a mesma sistemática de trabalho sem que a mudança de nome realmente represente uma abordagem diferente. Para esta perspectiva, é a mediação tecnológica que configura basicamente a Tecnologia Educacional. Por isso está centrada no meio.
Durante toda a década de 60, a Tecnologia Educacional teve, pois o seu conceito limitado e constantemente associado aos meios que constituem hoje as tecnologias educacionais, numa maneira mais avançada e mais coerente de se aplicar o potencial que os meios tecnológicos representam para a solução de problemas grandes e volumosos como o que estão aliados aos sistemas educacionais.
2 – Tecnologia Educacional: o conceito centrado no processo
Uma segunda tendência foi se afirmando progressivamente superando, pelo menos do ponto de vista teórico, a abordagem centrada no “meio”. Nesta perspectiva, Tecnologia Educacional é uma “forma sistemática de planejar, implementar e avaliar o processo total de aprendizagem e de instrução em termos de objetivos específicos, baseados nas pesquisas sobre aprendizagem humana e comunicação, congregando recursos humanos e materiais, de maneira a tornar a instrução mais efetiva”.
Nesta linha se situam igualmente as definições propostas que afirmam por Tecnologia Educacional o conjunto dos esforços intelectuais e operacionais realizados para reagrupar, ordenar e sistematizar a aplicação de métodos científicos à organização de conjuntos de equipamentos e materiais novos, de modo a otimizar os processos de aprendizagem.
Os autores que integram esta segunda tendência desenfatizam o “meio”, focalizam principalmente o processo e assinalam como características básicas da Tecnologia Educacional a aplicação de conhecimentos científicos à educação, a abordagem sistêmica, a aprendizagem e a instrução como processos, a busca da eficiência do processo de ensino-aprendizagem e a conjugação de recursos humanos e materiais.
Fala-se da “utilização racional” da tecnologia educativa, da introdução inteligente a nossos sistemas educativos, e não da solução dos problemas educativos reais. A introdução ou a utilização da tecnologia educativa se converte de novo em um “fim” e não em um “meio”.
3- Tecnologia Educacional: uma estratégia de inovação
Uma nova concepção da Tecnologia Educacional se centra no tema da inovação em educação. A palavra inovação, como tantas outras, é ambígua, ao mesmo tempo atraente e equívoca. Frequentemente, o termo inovação se relaciona com as idéias de mudança e novidade. Em nosso mundo, caracterizado como época de aceleração do processo de mudança, estas palavras -inovação, novidade, mudança – estão carregadas de valores sedutores para o homem. Uma primeira distinção é preciso fazer: toda inovação supõe uns processos deliberados, intencionais e planificados e não algo que ocorre espontaneamente.
Supõe-se que a inovação é uma operação que se realiza com o objetivo de que uma mudança seja incorporada, aceita e utilizada. No entanto, é necessário assinalar-se dois aspectos. Em primeiro lugar, aparentemente, as mudanças deliberadas deste tipo acontecem raramente, talvez porque as organizações preferiam a estabilidade e, muito poucas vezes, possuam mecanismos para facilitar a mudança, de dentro para fora. E segundo lugar, à medida que as autoridades docentes se interessem mais pela inovação, realizar-se-ão mais experimentos, que, provavelmente, em seu maior número, serão interrompidos.
De acordo com a definição, uma inovação deve durar, alcançar uma elevada taxa de utilização e adotar uma forma parecida a que se propunha quando projetada. O sistema educativo é propenso, muitas vezes, a mudar somente a sua aparência, sem alternar a sua essência.
Em relação ao conceito de Tecnologia Educacional como estratégia de inovação, é preciso analisar que nenhuma inovação é fim em si mesmo. O porque é o para que, devem nortear a estratégia. Caso contrário, também cairíamos na mesma distorção e transformaríamos o “processo” em “fim”.
4 – Tecnologia Educacional e processo de ensino-aprendizagem
Dentro desta perspectiva, de uma visão da totalidade da renovação educacional, é que se deve situar as questões relativas à melhoria do processo de ensino -aprendizagem.
Muitas são as variáveis que incidem sobre os resultados do processo de ensino-aprendizagem. Pode-se agrupá-los em duas categorias: variáveis de contexto e de processo.
O importante é desenvolver uma visão articulada do contexto e do processo.
Quanto à análise e desenvolvimento do processo permite:
- uma visão de totalidade, isto é, encarar o processo como um todo, como um conjunto de partes interagindo e contribuindo para que os fins almejados sejam atingidos;
- uma revisão quanto ao papel do professor na condução desse processo, suas funções e seu posicionamento na relação professor-aluno;
- uma visão do aluno como a razão de ser do próprio processo. Como consequência, a necessidade de que os objetos sejam fixados a partir de suas capacidades e aspirações, bem como das condições reais de trabalho que o professor encontra;
- clarificação dos fins e objetivos dos sistemas educacionais e instrucionais, focalizando sua importância como elementos direcionadores do processo de ensino-aprendizagem;
- um desenvolvimento da abordagem interdisciplinar para análise dos problemas educacionais e instrucionais;
- um desenvolvimento de sistemas instrucionais mais personalizados e individualizados;
- um conhecimento de cada componente do processo de ensino-aprendizagem e de suas inter-relações (objetivos técnicas e recursos de ensino e avaliação).
Por fim podemos afirmar que a Tecnologia Educacional poderá colaborar na busca de uma qualidade de ensino cada vez mais adequada às exigências do desenvolvimento científico e social do presente, na medida em que atuar sobre as variáveis que incidem no processo de ensino-aprendizagem, fazendo interagir as variáveis de contexto e de processo.
(*) Presidente do Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação
(**) Diretor do Grupo BESF – Brasil Educação Sem Fronteiras

Texto extraído do endereço: http://ead.folhadirigida.com.br/?p=2476  - Folha Dirigida - Ensino a Distância

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